Temos ouvido você falar em suas pregações
sobre uma banalização do meio cristão, no sentido de cantores e pastores que
vão participar de eventos e cobram cachês altos. Porque você acredita que essa
realidade ainda se mantém?
Luiz
Hermínio: Isso é falta de fé. Às vezes, a igreja local dá 30 mil
reais para alguém cantar. O irmão que vem cantar na igreja também precisa de
recursos para se manter. Porque atrás daquele irmão que está cantando tem uma
esposa, filhos que abriram mão dele. Mas a igreja também é muito avarenta,
porque ela investe em prédios e não em pessoas. Às vezes a igreja compra um
prédio de 20 milhões de reais e um pastor que está ali dentro está passando
necessidade, porque ela não entendeu qual é o destino do recurso. O recurso é
para que haja mantimentos e não manutenção. A Bíblia diz: "Trazei todo
dízimo para que haja mantimento". Quando ela de mantimentos, fala de
pessoas.
Então
é criado um ciclo: "Eu fiquei famoso, Deus me deu uma canção, uma unção,
eu tenho que cobrar por isso, porque as pessoas não estão respeitando o que eu
carrego". Existe a falta de respeito da igreja local e da pessoa que vai.
Às vezes a igreja investe 20 mil reais em um cara para pregar e cantar à noite,
mas tem diáconos no seu púlpito passando necessidade, porque não há um consenso
coletivo dos recursos. Quem administra é uma minoria, que decide construir
prédios. Nós nunca tivemos um evangelho tão crescente na nossa nação e esse
crescimento só denuncia a nossa incapacidade de reconhecer o que Deus é. O
crescimento denuncia a nossa fraqueza. Nós crescemos e nos tornamos igrejas
cheias de gente vazia. Nós procuramos uma igreja grande e Deus procura uma
grande igreja.
A
Bíblia é o guia de fé e prática do verdadeiro cristão. Mas há muitos de dentro
das igrejas que procuram outras fontes, como auto-ajuda, revelações
vazias... Você acredita que isso acontece por falha de quem: pastores ou
ovelhas?
Luiz
Hermínio: Nós vivemos hoje em um mundo muito corporativo. A Igreja
virou uma empresa. A Bíblia diz que que nós temos que alcançar o favor diante
de Deus e dos homens. Nós temos que dar uma resposta para o Céu e para a Terra.
Eu tenho que pagar os meus impostos. Com essa corporatividade, a Igreja se
transformou em uma organização e não em um organismo. Se somos um organismo nos
movemos como pessoas. Mas a Igreja se tornou uma organização. Por exemplo, hoje
nós temos 74 pessoas em tempo integral nas igrejas, cerca de 36 funcionários
com carteira assinada, com décimo terceiro salário, que às vezes recebem seus
salários antes dos vocacionados, que são os pastores, obreiros e ganham por sua
vocação, não pelo seu serviço. A Igreja precisa cuidar desses irmãos. Tudo é
necessário, cada coisa no seu lugar. O movimento "Coaching" que a
gente está inserindo na Igreja é muito importante para os empresários cristãos,
mas para o púlpito, tem que ser a Palavra de Deus. Pregue a Palavra! Isto insta
em tempo e fora de tempo. O que é pregar fora de tempo? É pregar quando ninguém
quer ouvir.
Em uma de suas mensagens, você também falou
sobre a diferença entre estratégia e revelação. Qual seria a importância de
cada uma delas? Elas se complementariam em algum momento?
Luiz
Hermínio: A revelação gera uma estratégia, mas a estratégia não gera
uma revelação. A palavra revelação nos traz: revelar + ação. Quando Deus te dá
uma revelação, ele está revelando o que Ele vai fazer para você não ficar de
fora. Se você recebe uma estratégia de alguém, esta estratégia foi revelada
àquela pessoa. De repente ela não é para todo corpo, às vezes ela só para uma
cidade. Nós temos o ministério MEVAM, atualmente em 22 nações. Cada nação se
move de uma forma. Tem nações que eu chego lá e não abro uma igreja, abro um
projeto social, porque a necessidade é dar comida para as crianças, não é
juntar o povo dentro de uma igreja. Aí me dizem: "Ah! Mas tem que levar
esse povo pro céu". Mas peraí, vamos curar os enfermos que há nela.
Jesus disse: "Quando chegar em um lugar, primeiro cure os enfermos que há
nele". Às vezes as enfermidades não são só físicas, são emocionais, há
pessoas passando necessidade. Eu chego a um local e digo: "Deus vai te dar
vitória", mas o cara está passando fome, crianças de sua cidade já
morreram de fome. Pessoas de sua família morreram de fome e eu vou chegar para
dizer "Jesus te ama". Eu tenho que levar alguma coisa para
eles.
Então eu acho que revelação e estratégia funcionam
juntas. Mas o problema é que às vezes tem uma revelação e quer enfiar isso
goela abaixo para o Corpo de Cristo. "Deus falou para mim!", mas às
vezes aquele não é o contexto daquilo para aquele lugar. A Arca de Noé foi uma
revelação dada por Deus, mas quando as águas baixaram a Arca não foi mais
necessária. Tinha que mudar, porque métodos são relativos ao tempo, revelação
não. As revelações são para nós e para nossos filhos para sempre, Deuteronômio
29:29 diz. A revelação não muda. Deus não muda a revelação, Ele muda o modo. Há
um tempo e um modo para todas as coisas (Eclesiastes 8:6-7). Há um tempo e um
modo. Se eu não entender o tempo, como vou entender o modo? Eu acabo rejeitando
o modo. Aqueles homens no caminho de Emaús, em Lucas 24... Eles estavam
indo para Emaús, porque eles achavam que Jesus ia transformar, mas não
entenderam o tempo e rejeitaram o modo. Jesus teve que entrar no meio deles e
dizer: "Incrédulos! Vocês não entendem que era necessário que o Cristo
padecesse e fosse crucificado". Então eles reagem: "Ah! É Ele!"
e ali Jesus se revela e eles voltam para Jerusalém, ou seja, eles voltam para o
tempo exato.
Se você não entender o tempo, você rejeita o
modo. Então começam a acontecer coisas ao seu redor e você diz: "O Diabo
se levantou", mas não é o Diabo. É Deus te dizendo: "Fica tranquilo!
Eu estou fazendo isso agora. Mas como você entende o meu tempo, não vai rejeitar
o meu modo".
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